domingo, 27 de novembro de 2011

Sabedoria de avó

Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um coquetel de frutas, dizer à minha neta:

- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado.
Tenho umas coisas pra te contar.
E assim, dizer apontando o indicador para o alto:
- O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos,
com os ossos frágeis,  a pele mole e os cabelos brancos  minha alma é o que me resta saudável e forte.
Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz.
Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
Satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos.
Tenha filhos.
Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e à Austrália.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos.
Ame. Ame pra valer.
Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida! Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Saiba AMAR, amando...
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável.
Porque sim, as pessoas comentam,  reparam,  e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança ou status.
Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade
quando o assunto é paixão.

Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação.
Leia. Pinte, desenhe, escreva.
E por favor, dance, dance, dance....

Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam,
e sempre farão.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.

Era só isso, minha querida.

Agora é a sua vez.  Me diga: Como vai você?



                                                                                                                Autor desconhecido

Dias Felizes

domingo, 13 de novembro de 2011

PUDIM

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir Pudim de sobremesa,  contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido. Um só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a  vontade que dá é de passar numa loja de conveniência,  comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir
quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou  moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela  metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada  liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai
ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua,o compasso,a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase  mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'..
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos  (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores,  vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro,um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.
Marta Medeiros


"Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer."
Mário Quintana

                                                                                                                             Dias Felizes

domingo, 6 de novembro de 2011

A BORBOLETA E O CAVALINHO

Esta é a história de duas criaturas que viviam numa floresta distante há muitos anos atrás.
Eram elas, um cavalinho e uma borboleta
.
Não tinham praticamente nada em comum,  mas em certo momento de suas vidas se aproximaram e criaram um elo.
A borboleta era livre,
voava por todos os cantos da floresta enfeitando a paisagem.
Já o cavalinho, tinha grandes limitações,
 não era bicho solto que pudesse viver entregue à natureza.  Nele, certa vez,  foi colocado um cabresto por alguém que visitou a floresta e a partir daí sua liberdade foi cerceada.
A borboleta, no entanto,
embora tivesse a amizade de muitos  outros animais e a liberdade  de voar por toda a floresta,  gostava de fazer companhia ao cavalinho,  agradava-lhe ficar ao seu lado e não era por pena, era por companheirismo, feição,  dedicação e carinho.
Assim, todos os dias, ia visitá-lo e lá
chegando levava sempre um coice,  depois então um sorriso.
Entre um e outro ela optava por esquecer o coice e guardar dentro do seu coração o sorriso.
Sempre o cavalinho insistia com a borboleta
que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto por causa do seu enorme peso.
Ela, muito carinhosamente,  tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso nem sempre era possível por ser ela uma criaturinha tão frágil.
Os anos se passaram e numa manhã de verão
a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro.
Ele nem percebeu, preocupado que ainda estava em se livrar do cabresto.
E vieram outras manhãs e mais outras
e milhares de outras, até que chegou o inverno e o cavalinho sentiu-se só e finalmente percebeu a ausência da borboleta.
Resolveu então sair do seu canto e procurar por ela.
Caminhou por toda a floresta a observar
  cada cantinho onde ela poderia ter se
escondido e não a encontrou.
Cansado se deitou embaixo de uma árvore.
Logo em seguida um elefante se aproximou e lhe perguntou quem era ele e o que fazia por ali.
-Eu sou o cavalinho do cabresto e estou a
procura de uma borboleta que sumiu.
- Ah, é você então o famoso cavalinho?
- Famoso, eu?
- É que eu tive uma grande amiga que me disse que também era sua amiga e falava
muito bem de você.
Mas afinal,
qual borboleta que você está procurando?
- É uma borboleta colorida, alegre,  que sobrevoa a floresta todos os dias visitando todos os animais amigos.
- Nossa,
mas era justamente dela que eu estava falando.  Não ficou sabendo?  Ela morreu e já faz muito tempo.
-  Morreu? Como foi isso?
- Dizem que ela conhecia, aqui na floresta, um cavalinho,
 assim como você e todos os dias quando ela ia visitá-lo,  ele dava-lhe um coice.  Ela sempre voltava com marcas horríveis e todos perguntavam a ela quem havia feito aquilo,  mas ela jamais contou a ninguém. Insistíamos muito para saber quem era o autor daquela malvadeza e ela respondia que só ia falar das visitas boas que tinha feito naquela  manhã e era aí que ela falava com a  maior alegria de você.
Nesse momento o cavalinho já estava derramando muitas lágrimas de tristeza e de arrependimento.
-  Não chore meu amigo,
 sei o quanto você deve estar sofrendo.  Ela sempre me disse que você era um grande amigo,  mas entenda,  foram tantos os coices que ela recebeu  que acabou perdendo as asinhas,  depois ficou muito doente,  triste e sucumbiu e morreu.


Estamos acostumados a aceitar
os coices que recebemos  quando eles vierem acompanhados de beijos,  mas em algum momento da nossa vida,  as feridas que eles causam não serão mais possíveis de serem cicatrizadas.
Não culpe ninguem pelos cabrestos que tiveres que carregar  durante sua existência,  afinal de contas  muitas vezes,  foi você mesmo que o colocou no seu dorso, OU PERMITIU QUE FOSSE COLOCADO.


Porque parte de nós é entendimento... a outra parte é aprendizado...
Que você possa ter forças para vencer todos os seus medos...
Que no final possa alcançar todos os seus objetivos...
Que durante a sua vida você possa construir sentimentos verdadeiros....

Para ser feliz não existe poção mágica.
É preciso somente que tenha a alma limpa e desprovida de mágoas e rancores.
Quanto mais tempo ficarmos remoendo as dores mais tempo levaremos para cicatrizar as feridas.

Estamos aqui de passagem. Nada trouxemos e nada levaremos.
Cada um é livre para cumprir a sua missão...


                                                                                                          Dias felizes