domingo, 24 de maio de 2015

Quando me Tornei Invisível

Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.  E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.
Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás.
Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas.

Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivessem com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão...
Mas ninguém vem . No dia seguinte disse lhes:
- Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta.
E meu neto perguntou:
- Estás viva avó? ( rindo)
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu , foi então que me convenci de que sou invisível.
Uma vez os netos vieram dizer-me que iriamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía!
Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia...
Um dia a minha neta que acabava de ter um bébé me disse que não era bom que os velhos beijassem os bébés por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! Eu não tenho magoa deles , eu perdoo a todos , porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível?


   
Texto original - " El dia que me volvi invisible "
Autora - Silvia Castillejon Peral
Cidade do México - 2002

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

FAÇA DIFERENTE

Um casal de mais de 50 anos juntos, amando, brigando, ficando, implicando, trocando flores, versos, enfim... vivendo. - Um dia, a mulher, durante o café da manhã, resolve experimentar o gosto que tem o miolo do pãozinho fresco e quentinho naquele momento solene do café matinal...
Durante todos aqueles anos juntos ela sempre, eternamente, dava o miolo pro seu amor, achando que era a melhor parte do pão. Se era a melhor, por quê comê-la e não deixar para ele? Naquele dia em que completavam 50 anos de casados, ela olhou-o bem no fundo dos olhos e disse:
- Meu velho, hoje vou me permitir comer a melhor parte do pãozinho, como presente de você para mim, vou tirar o miolo como sempre fiz e encher da mais pura manteiga... porém vou comê-lo e não dá-lo pra você. Ele numa intensa felicidade, olha para ela com o mais ternos dos olhares , a voz embargada diz:
-Ô minha velha, que alegria! Eu não aguentava mais comer esse miolo-amanteigado, comia porque você me dava com tanto carinho, mas na realidade nunca gostei... a casca do pão sem ele, deve ser muito melhor. Eu comia pensando estar lhe agradando, achando que você não gostava do miolo, era só pra a agradar, minha velha...
Ambos se regalaram: ela com o pão com miolo-amanteigado e ele com o pão só com a casca e pouquíssima manteiga.
Assim percebo que nem sempre o que a gente acha que o que é melhor para o outro, seja o melhor realmente. Ideal é deixar que o outro faça sua escolha” e não escolher por ele, mesmo sendo o nosso grande amor de mais de 15, 20, 50 anos ou não, entre brigas, beijos, desejos, solidões, alegrias e bons sentimentos. 
Temos sim, que ...Viver! E não ter a vergonha de ser feliz...
Viver e deixar que o outro viva intensamente, buscando seu próprio caminho. 
Isso é amor verdadeiro....




sábado, 24 de janeiro de 2015

Raízes Culturais

                                                                                         IDENTIDADE
A Águia e a Galinha
            Um camponês pegou um filhote de águia e coloco-o no galinheiro junto com suas galinhas..  Embora a águia fosse a rainha de todos os pássaros o pequeno  filhote comia milho e ração própria para galinhas.
          Cinco anos depois  o camponês recebeu em sua casa a visita de um naturalista que ao ver o pássaro disse:
         - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

         - De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha.   Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
            - Não – retrucou o naturalista. Ela é e sempre será 
uma águia. Pois tem um coração de águia.  Este coração á fará um dia voar ás alturas. 
           - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.      Então decidiram fazer uma prova.  O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
            - Já que você de fato é uma águia,  já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe!  A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista.  Olhava distraidamente ao redor.  Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.  
            O camponês sorriu e disse:
           - Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
           - Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia.  Vamos experimentar ainda uma ultima vez.   Amanhã a farei voar.
           No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.  O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
           - Águia, já que você é uma águia,  já que você pertence ao céu e não à terra,  abra suas asas e voe!
            A águia olhou ao redor.  Tremia como se experimentasse nova vida.   Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente,  bem na direção do sol,  para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.    Nesse momento, ela abriu suas potentes asas,   grasnou como as águias e ergue-se,  soberana.  E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...

Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.
                                                                            (Autor: Leonardo Boff)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

ACEITAÇÃO E CONFORMISMO


Estes dois sentimentos parecem semelhantes, mas não são.

A diferença é total. Um traz paz interior e proporciona a mudança, o outro traz uma insatisfação mascarada e estagnação.

Existe uma grande diferença entre ter um sentimento de aceitação e ser uma pessoa conformada que não faz nada para mudar.

·         A aceitação traz paz interior e ao mesmo tempo permite que você faça tudo o que está ao seu alcance para mudar a situação. Já o conformismo mantém as pessoas em situações que poderiam ser modificadas para melhor.

·         A aceitação é baseada numa sabedoria interior, já o conformismo é baseado em sentimentos ligados a baixa auto-estima, sentimentos de não ser capaz, de não merecer algo melhor.

Normalmente as pessoas confundem o sentido de uma coisa com a outra. “Eu não posso aceitar essa situação porque senão, não farei nada para mudar.”
Quando não aceitamos as coisas como elas são na realidade, criamos um conflito interior que gera tensão e sofrimento. Todos sabemos que lutar com a realidade é inútil. Normalmente as pessoas acham que só podem ser impulsionadas a fazer algo baseadas em sentimentos de raiva e indignação. Certamente esses sentimentos podem levá-lo a agir e mudar a sua vida.
No entanto, é possível agir e fazer tudo o que tem que fazer para mudar para melhor, ao mesmo tempo que aceita o momento presente que ainda é diferente do que você deseja.

Assim você consegue dar todos os passos para a mudança sentindo-se em paz. Quando você não aceita a mudança a sua vida torna-se dolorosa e provoca-lhe sofrimento.

O que é sentir raiva de alguém? É a não-aceitação da pessoa como ela é ou do que ela fez contra si.


A raiva muda o que passou? Não.
A raiva que você sente muda a outra pessoa? Não.
Mas talvez você consiga, impulsionado pela raiva, terminar tudo com essa pessoa. Isso é verdade.   Mas que tal você fortalecer a sua auto-estima e aprender a dizer não e impor os seus limites na altura certa?

Nesse caso, mesmo que alguém seja desagradável  você não precisará sentir raiva para tomar  atitudes. Você irá agir com tranquilidade, quer seja afastando-se da pessoa, ou dizendo um não.

Ao mesmo tempo que você “aceita” o que ela fez e o que ela é (porque você não pode alterar a realidade), você toma as atitudes que tem que tomar.
A não-aceitação é a luta com a realidade, é baseada na imaturidade emocional, na falta de consciência.

O conformismo pode disfarçar se de aceitação, mas é algo bem diferente, pois é baseado também em sentimentos negativos.

A aceitação permite-nos viver em paz e mudar o que pode ser mudado.
Aceitar é sinônimo de soltar a carga, liberta-nos.

Pense numa situação que gostasse de mudar na sua vida e pergunte-se o que existe nela que você não aceita e que o mantém atado a ela.
Só através da aceitação podemos iniciar o “caminho de mudança”.

Você tem recursos interiores que nem imagina, tire do seu interior o seu “ser” autêntico, você não precisa de nada extra para triunfar neste mundo, porque você já tem tudo dentro de si.

Aceite-se e ame-se!
 
 
                                                                           FORÇA,FÉ, ALEGRIA
 
 
fonte:http://caminhosdemudanca.blogspot.com.br/2010/09/diferenca-entre-aceitacao-e-conformismo.html